Cuba de trem é a experiência da miséria ao vivo. |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista, conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
As primeiras ferrovias – de luxo, aliás – da América Latina, foram as de Cuba. Hoje elas constituem a forma mais lenta de transporte na ilha, o que não é dizer pouco.
Viajar de Havana a Santiago de Cuba – mais ou menos de uma extremidade a outra da ilha ou 765 quilômetros – leva em média 15 horas, caso o trem não quebre, fato muito comum.
Um jornalista do “Clarín” de Buenos Aires ousou a aventura e publicou os resultados.
As cabras pastam junto aos trilhos, obrigando as locomotivas a frear para não atropelá-las. Carros de antigas marcas americanas e caindo aos pedaços fazem fila nos cruzamentos, aguardando passar os vagões, que podem atrasar horas.
Conduzir um trem exige muita habilidade, quando funciona. |
Aqueles mesmos trilhos transportavam toneladas de açúcar da outrora pletórica indústria cubana hoje reduzida a frangalhos. Em compensação, um jovem sobe no vagão, levando cabras para vender no mercado negro em Havana.
Para modernizar o sistema, o governo procura velhos equipamentos compatíveis com os modelos soviéticos.
Mas o roubo e o descaso dos funcionários garantem que o sistema continue tão péssimo como antes das “melhoras”.
De Havana a Santiago há um trem com ar condicionado, mas está quebrado e sem previsão de voltar a funcionar.
As famílias não têm outra opção senão se resignar. Não há outra via nem dinheiro para pagar “por fora”.
As ferrovias estão integradas com a rede de transporte público. |
Os trens da era aristocrática tinham vagões-restaurante e serviços de luxo, por vezes mais exigentes que seus símiles europeus.
Na atualidade, a chance de um refrigerante é representada por camelôs nos cais das múltiplas paradas, para quem puder pagar.
No século XIX, a rede ferroviária cubana chegou a ter 9.000 quilômetros (5.600 milhas) de extensão e percorria toda a ilha, até que o socialismo do século XX se encarregou de escangalhá-la.
Mas a propaganda do regime faz questão de sublinhar esses “títulos de nobreza” para o exterior, sem mencionar o quanto ele os espezinhou.
Um enferrujado tanque soviético ameniza o panorama. |
Os turistas pagam menos de 50 centavos de dólar pelo passeio.
Entre Santiago e Havana, os cubanos pagam pouco mais de um dólar e podem transportar as coisas mais incríveis, sem garantia de chegar bem. Para os estrangeiros o preço é 30 dólares.
A miséria cubana costumava ser atribuída pelo regime ao embargo americano. Hoje a propaganda a está transformando numa realização ecológica: um sucesso do modelo anticapitalista que não aquece o planeta.
Nessa nova visualização, Fidel Castro vai assumindo os ares de um patriarca e profeta do futuro mundo verde.