Dr. Evaristo de Miranda |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista, conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
A seca de 2023 na região amazônica foi explorada pela mídia alarmista como sinal do aquecimento global e outros pânicos... até que choveu.
A grande seca havida é atribuível ao fenômeno denominado El Niño, que ainda vai trazer outros efeitos nestes anos, explica o Dr. Evaristo de Miranda.
Mas isto não tem nada de novo e é exagero palmar liga-lo aos corriqueiros pânicos artificiais tão do gosto do ambientalismo.
O Dr. Evaristo de Miranda, de grande trajetória no ambiente científico nacional no Brasil, particularmente na cúpula da EMBRAPA, desfez esses blefes ecologistas em extenso artigo para a “Revista Oeste” da qual extraímos parágrafos.
Em 1926, explica, aconteceu seca análoga pelas mesmas causas e a ninguém ocorreu que fosse culpa dos homens, do agronegócio ou do desmatamento, ou qualquer outro pretexto ideológico, pois nada disso nem mesmo existia.
A seca na bacia amazônica só teve uma responsabilidade: o fenômeno climático El Niño que não depende dos homens.
“Cem anos ou quase passaram. Em 1926, rios, igarapés e lagos amazônicos baixaram e secaram.
“Ribeirinhos caminhavam por rios e lagos onde antes navegavam e pescavam com pirogas.
“Barcos e casas flutuantes ficaram encalhados nas margens a mais de um quilômetro da água corrente dos Rios Negro, Solimões e Amazonas.
“O nível do Rio Amazonas baixou ao menor valor já registrado em Manaus até hoje!
“Em 1926, a onipotência humana ainda não tinha dimensões amazônicas.
“Ninguém se sentia capaz de secar o Amazonas, destruir o planeta ou muito menos realizar sua salvação.
“Ninguém culpou o desmatamento da Amazônia. A seca de 1926 na bacia amazônica tinha um “responsável”, o fenômeno climático El Niño.
“Sem chuvas, as matas dos igapós pareciam de terra firme. A mortandade de peixes foi grande, para alegria de muitas aves.
“Em Rondônia, na Cachoeira de Santo Antônio, podia-se quase atravessar o Rio Madeira sobre as rochas.
“Em Manaus, casas sobre palafitas ficaram em terra seca. Imensas ilhas e praias de areia surgiram nos rios.
Navio encalhado no leito seco do Rio Solimões |
“El Niño é um fenômeno atmosférico-oceânico de ocorrência no Pacífico Equatorial, há milhares de anos.
“As águas ficam com temperaturas superiores à condição média histórica.
“Essa mudança acarreta efeitos globais nos padrões de circulação atmosférica, transporte de umidade, temperatura e precipitação, diferenciados em várias partes do planeta.
“A concentração de águas oceânicas mais quentes nas costas do Peru reduz os cardumes e prejudica a pesca.
“Por ocorrer no tempo do Advento do Natal, os pescadores, há séculos, deram ao fenômeno um nome associado ao do Menino Jesus.
“Era um sinal. Um direito trabalhista: El Niño desejava vê-los descansar e passar mais tempo com suas famílias no Advento do Senhor.
“Em muitas questões climáticas, como no El Niño, as narrativas do perene consórcio da mídia e seus “especialistas” apresentam como excepcionais eventos absolutamente normais. E tentam impor comportamentos e teses anormais à sociedade, como se normais fossem.
“Ano chuvoso ou seco, quente ou mais frio, sempre favorece algumas culturas e prejudica outras. Não existe clima ideal simultaneamente para todas as atividades agropecuárias
“O leitor não se assuste com narrativas climáticas catastrofistas. Nos últimos cem anos, foram contabilizados 27 episódios de El Niño de intensidades variadas.
“O fenômeno pode durar um ano, dois e até três. Foram 54 anos sob influência do El Niño, em um século, desde 1923!
“Nada de excepcional neste advento do El Niño, ao contrário do assinalado por parte da mídia apocalíptica e seus habituais “especialistas”, em tom de terrorismo climático.
“Os registros temporais do El Niño alcançam um século e meio, com vários tipos e consequências. Quem tiver paciência pode ler e constatar as durações e intensidades: 2018-2019, fraca; 2014-2016, forte; 2009-2010, moderada; 2006-2007, forte; 2004-2005, fraca; 2002-2003, moderada; 1997-1998, forte; 1994-1995, moderada; 1990-1993, forte; 1986-1988, moderada; 1982-1983, forte; 1979-1980, fraca; 1977-1978, fraca; 1976-1977, fraca; 1972-1973, forte; 1968-1970, moderada; 1965-1966, moderada; 1963, fraca; 1957-1959, forte; 1953, fraca; 1951, fraca; 1946-1947, moderada; 1939-1941, forte; 1932, moderada; 1925-1926, forte; 1923, moderada; 1918-1919, forte; 1913-1914, moderada; 1911-1912, forte; 1905-1906, forte; 1902-1903, forte; 1899, forte; 1896-1897, forte; 1888-1889, moderada; e 1877-1878, forte.
“Qual será a intensidade e a duração do El Niño 2023-2024? Ninguém sabe. Houve uma dezena de eventos de forte intensidade em cem anos.
Seca do Rio Negro, em Manaus, atingiu nível mais baixo da história |
“Dada a dificuldade de locomoção, as aulas foram suspensas para mais de três mil alunos de 29 escolas de Manaus. A capital enfrentou por mais de 20 dias a fumaça de mais de 11 mil focos de queimadas na Amazônia.
“Com a queda na vazão dos principais rios amazônicos, as usinas hidrelétricas paralisaram turbinas e operaram em níveis de geração muito baixos. Prefeituras distribuíram água com caminhões-pipa, como em Paraopeba, dada a seca nos reservatórios.
“Como neste ano [2023], em 2015 uma onda de calor, bem maior, atingiu o Centro-Oeste, o Sudeste, parte do Norte e do Nordeste entre setembro e outubro.
“Mais de 30 cidades com estações do INMET registraram temperaturas acima de 40 °C em 16 de outubro. Palmas registrou 42,1 °C nesse dia. E Manaus teve a sua maior temperatura em 90 anos: 38,9 °C, em 21 de setembro de 2015.
“Agora, a presença do enfant terrible do clima assanha jornais e editoriais: “El Niño ameaça a inflação e já preocupa o Banco Central”, anuncia o Valor Econômico.
“Mais um ponto na atribulada pauta de Roberto Campos Neto, o presidente do Banco Central. “El Niño deve virar Super El Niño e intensificar efeitos no clima no fim do ano”, vaticinam na CNN.
“E o catastrofismo não se limita ao Brasil: “El Niño representa a maior ameaça em décadas para espécies vulneráveis em Galápagos”, avisa a agência AFP. Haja travessura.
Navegação do Rio Amazonas |
“A safra brasileira será uma das mais prejudicadas do mundo pelo fenômeno climático El Niño, profetizam na mídia.
“Ano chuvoso ou seco, quente ou mais frio, sempre favorece algumas culturas e prejudica outras.
“Não existe clima ideal simultaneamente para todas as atividades agropecuárias.
“No Nordeste, irregularidade e falta de chuvas podem trazer prejuízos às culturas intensivas na região do Matopiba. Para tanto, o fenômeno deveria ser muito intenso desde já. E isso ainda não ocorre.
“Frustrações de safra de milho e feijão no semiárido trarão dificuldades aos pequenos agricultores do sertão. Ações estão previstas pelas autoridades?
“A mesma falta de chuvas favorece a irrigação no Vale do São Francisco e no semiárido. O excesso de chuvas entre 2021 e início de 2022 comprometeu 80% das safras de uva e de manga do primeiro semestre, com prejuízos estimados em R$ 60 milhões.
“Com as chuvas, as uvas incham e estouram. Na irrigação é dada a água em quantidade necessária para a parreira se desenvolver bem e produzir frutos de qualidade.
Rede de rios na Amazônia |
“Sobretudo para o milho de segunda safra, produzido no inverno, com o aumento da umidade e a maior regularização das chuvas no Sul e no Sudeste. Algumas pragas, doenças e plantas daninhas terão o desenvolvimento favorecido pelo aumento da pluviosidade.
“Os produtores têm tecnologias para enfrentá-las, mesmo com mais gastos com defensivos. Mais chuvas no Sul e no Sudeste favorecem a produção e a permanência das pastagens, mesmo no inverno, com benefício à pecuária.
“Muita chuva, pode causar encharcamentos, prejudicar a cana-de-açúcar, o café e a operação de máquinas no campo. Muita umidade derruba a concentração de açúcar na cana, diminui a extração do caldo (etanol e açúcar) e dificulta colheita e transporte para moagem.
“Para comprometer a safra, o fenômeno precisaria ser muito intenso em 2023 e no início de 2024. Difícil.
“A menor das luzes sempre vence as trevas. Nestas noites, olhe para os céus e poderá enxergar uma chuva especial.
“Não de água, e sim de meteoros: as Oriônidas. Elas estendem-se entre quatro de outubro e 14 de novembro. O máximo é no 21 de outubro: a taxa zenital chega a 23 meteoros por hora.
“Não tem relação com mudanças climáticas. São apenas detritos deixados pelo cometa Halley, quando de sua passagem nestes pagos cósmicos.
“Torça por céu limpo e olhe em direção às Três Marias, o Cinturão de Órion, a partir das 22h45. Lindo de ver em áreas rurais, distantes de luzes urbanas, apagadoras de estrelas.
“Meteoros escrevem direito por linhas elípticas. Fenômeno mais regular e menos conhecido, comparado ao El Niño. E menos polêmico.
“Às trevas da criatura, responde a Noite da Transcendência (São João da Cruz). Atenção à crase (krâsis)”.
Assim fala a ciência, o bom senso, a experiência e a autêntica brasilidade. O Dr. Evaristo de Miranda está de parabéns. Veja a matéria em “Revista Oeste”.Infelizmente, nada disso está presente na agitada mídia alarmista ambientalista. Ela continuará a nos bombardear com seus blefes, como os bombardeios de Putin sobre a Ucrânia vitimada.