Neste ponto de Uttar Pradesh (Índia) deveria ter uma árvore absorvendo CO2. Milagre do 'greenwashing'!!! |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista, conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Muitas empresas, ONGs, governos ou agências internacionais se pavoneiam como líderes na “captura de carbono” (CO2) se ufanando de promover o aumento da cobertura florestal para lutar contra as mudanças climáticas, observou reportagem da BBC.
Os vegetais absorvem o carbono presente no CO2 para se crescerem. Mas há algo estranho quando essas mesmas empresas líderes apoiam ONGs por sua vez inimigas do agronegócio.
As grandes e novas plantações de grãos absorvem muito carbono do CO2 e liberam muito oxigênio do gás. Isso é uma lei da natureza.
Quando as florestas são velhas estabilizam a absorção de CO2 e sua substituição por espécies novas ou grãos, quer dizer um desmatamento bem feito, é benéfico ao aumento do oxigênio. Mas isso não acontece com a vegetação velha e todo e qualquer desmatamento é condenado. É estranho.
A situação se agrava quando muitas vezes, o aumento da cobertura florestal que os heróis anti-CO2 dizem promover só existe no papel e resulta em mera propaganda inescrupulosa.
Nesses casos as promessas dos heróis anti-CO2 não são cumpridas e as árvores que dizem ter plantado não existem morreram ou foram até mesmo derrubadas.
A cientista Jurgenne Primavera foi verificar na costa de Iloilo, nas Filipinas águas rasas semeadas com manguezais pelo ambicioso Programa Nacional de Esverdeamento do país, mas não encontrou nada.
90% das mudas plantadas morreram porque não eram as adequadas. O governo optou por elas porque, segundo a cientista, são mais fáceis de plantar e mais abundantes. A propaganda soou forte, o dinheiro foi jogado fora e a propalada “descarbonização” do ar resultou em blefe.
“A ciência foi sacrificada”, disse Jurgenne, e deu num sonoro fracasso. Comissão de Auditoria do país revelou que nos primeiros cinco anos do programa 88% das metas do Programa Nacional de Esverdeamento fracassaram e sumiram quase 1,5 milhão de hectares de florestas e manguezais entre 2011 e 2019.
Programas espalhafatosos de plantio de florestas como o Bonn Challenge para restaurar 350 milhões de hectares de paisagens desmatadas e degradadas em todo o mundo; a iniciativa Trillion Trees para conservar e cultivar um trilhão de árvores antes do final da década; a Iniciativa 20X20 para a América Latina e o Caribe; a Great Green Wall na África Subsaariana; o programa AFR100 que abrange o continente como um todo, são nomes de planos pomposos mas não se sabe se progrediram em algo.
A diretora do programa Bonn Challenge alega que o “progresso não foi totalmente documentado”, leia-se não existe.
Da Iniciativa 20X20, um especialista disse à BBC que menos da meta foi atingida.
O World Resources Institute fornece assistência técnica ao programa AFR100 mas não sabe quanta restauração está ocorrendo.
Tim Christophersen, até este mês chefe da Nature for Climate do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, diz que do bilhão de hectares de paisagem que os países prometeram restaurar em todo o mundo “a maioria” continua sendo uma promessa e não uma realidade.
Uma plantação fracassada na cidade de Banda, em Uttar Pradesh (Índia) |
O Estado de Uttar Pradesh, na Índia, plantou dezenas de milhões de mudas nos últimos cinco anos, Mas quando a BBC foi verificar as novas plantações perto da cidade de Banda, encontrou poucas vivas embora placas enferrujadas anunciavam orgulhosamente a existência do grandioso plano, enquanto o cerrado tomava conta da superfície.
“Essas plantações são basicamente montagens para fotos, elas parecem ótimas, os números soam estupendos”, deplora Ashwini Chhatre, professor associado da Indian School of Business, que pesquisou a restauração de ecossistemas.
O professor Ashish Aggarwal, do Instituto Indiano de Gestão em Lucknow, diz que a Índia replantou uma área do tamanho da Dinamarca desde a década de 1990. Mas pesquisas nacionais mostram que a cobertura florestal está aumentando apenas gradualmente.
“Mesmo com uma taxa de sobrevivência de 50%, deveríamos ter visto mais de 20 milhões de hectares de árvores e florestas”, diz. “Mas isso não aconteceu — os dados não mostram esse acréscimo”.
Segundo a vice-diretora da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Tina Vahanen, o problema é generalizado, e não está limitado à Índia.
“Muitas das plantações foram ações de marketing”, diz ela, “sem nenhuma ação de acompanhamento que seja realmente necessária para o cultivo de árvores”.
A BBC ouviu esta reclamação de moradores dos distritos de Lugela, Ile e Namarroi, no centro do Moçambique.
O mesmo foi dito por Vanessa Cabanelas, da ONG Justiça Ambiental, que afirma que a paisagem original era mais eficiente na captura de carbono do que esses projetos caríssimos da ONU, governos, empresas e ONGs.
“A ideia de plantio nos é vendida como mitigação dos impactos das mudanças climáticas, o que é falso”, diz ela.
“Há muito greenwashing [algo como “lavagem verde”, expressão que indica forjar uma aparência ambientalmente correta em produtos e ações] por aí e temos que descobrir isso ativamente", diz Tim Christophersen.
“Há uma tentação de greenwashing, porque custa menos do que fazer a coisa certa”. Eis como os heróis anti-CO2 aplicam as verbas dos programa pomposamente anunciados.
E muitas empresas publicam editais para seleção de projetos de pesquisas só para marcar posição no mercado como empresa inovadora e ambientalmente correta. Não sai um pirulito daí. Recentemente perdi meu tempo fazendo um projeto para uma dessas empresas.
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