Artefatos de guerra do antigo forte português de São Francisco |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista, conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
A histórica seca de 2024 na Amazônia trouxe à tona aspectos históricos brasileiros abafados pela grande mídia. Cabe destacar a labor ignorada de esforçados cientistas que agora viram confortada parte de seus trabalhos.
Com a diminuição do nível das águas, emergiram gravuras rupestres no sítio Caretas confirmando que a Amazônia albergou outrora civilizações que moravam em grandes aldeias em frente ao Encontro das Águas, como explicou o arqueólogo Filippo Stampanoni Bassi, segundo “Amazonia Real”.
É errôneo supor que os pobres e decadentes tribos indígenas que hoje apenas sobrevivem na extrema penúria sejam o modelo de organização social, política, econômica e cultural acorde com a floresta úmida amazônica.
Perto de Manaus foram encontradas grandes quantidades de fragmentos de cerâmica e gravuras rupestres, terras negras resultantes de um trabalho sistemático de adubação e agricultura inteligente.
Os petróglifos do afloramento rochoso em Lajes apresentam fortes semelhanças estilísticas com figuras em formato de cabeça que se encontram gravadas ao longo de numerosos pedrais ribeirinhos da Amazônia central.
Eles ocupam paredes extensas debaixo da água, o que torna complexos os estudos, mas ao mesmo tempo revelam uma mística até agora desconhecida.
Elas também desmentem os exageros ecologistas de uma Terra que aquece e seca. Pois ditos petróglifos não permitem negar que quando foram feitos há mais de mil anos, o nível dos rios atingia um nível mais baixo do que o atual.
Gravuras com o mesmo padrão do sítio Caretas, em Itacoatiara |
“A gente achava que devia ter uma época que era mais seca na Amazônia. Marta Cavallini encontrou coisas parecidas no rio Urubu e conseguiu fazer umas datações e a idade era de pouco mais de mil anos ou dois”, conta. Novas procuras científicas estão em andamento.
No bairro Colônia Antônio Aleixo de Manaus, na área Onze de Maio, em 2012 foi identificada uma urna funerária resgatada pelo arqueólogo Carlos Augusto Silva e levada para o laboratório de arqueologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Uma das imagens mais impressionantes do pedral foi identificada em 2020. Trata-se do desenho de um rebojo (palavra local para “redemoinho”) de rio, desenhado em um fragmento cerâmico.
Por sua vez, a mesma seca severa revelou outro tesouro histórico na região: as ruínas do Forte São Francisco Xavier de Tabatinga. Construído no século XVIII, foi uma peça-chave para garantir o domínio de Portugal, e, portanto, do futuro Brasil, numa região disputada pela Espanha, registrou “G1”.
O forte que teve um papel estratégico desanimando expedições espanholas estava no fundo do rio, mas com o baixo nível atual das águas, as ruínas reapareceram.
O historiador Luiz Ataíde que dedicou 20 anos a estudar a região do Alto Solimões achou peças de louça e munições usadas pelos militares quando o forte ainda funcionava.
A conquista da área de fronteira entre o Brasil, Colômbia e o Peru foi marcada pelo Tratado de Madri, em 1750, que garantiu a soberania da região ao governo português; e o Tratado de Santo Idelfonso, em 1777, onde a coroa espanhola pede de volta à Portugal da área territorial onde hoje se encontra a região do Alto Solimões.
Ruínas do Forte São Francisco Xavier de Tabatinga |
Para honrar a coragem dos militares, o Exército Brasileiro construiu um memorial que reproduz parte da estrutura do forte. Esse inclui canhões e outras peças da época, e pode ser visitado no Museu do Comando de Fronteira Solimões, em Tabatinga.
A seca também permitiu recuperar dois canhões de bronze e uma bala de formato esférico, do forte que vigiava a atual tríplice fronteira com Santa Rosa, do Peru, e Letícia, da Colômbia.
A descoberta dos artefatos bélicos “foi por acaso, contou o cabo militar Alex Pontes, 29 anos. (...) Quando cheguei em uma ponta da praia, me deparei com o canhão”, contou.
Em novas buscas no terreno apareceu um segundo canhão parcialmente submerso e uma bala de canhão com formato esférico, também enterrada, noticiou “O Estado de S.Paulo”.
E põe-se a questão: o Forte São Francisco Xavier pode ter sido erigido embaixo da água ou foi inundado pelas águas do Solimões?
Da segunda hipótese, aliás que teria acontecido em 1932, se tira a conclusão de que historicamente existiram oscilações climáticas e geográficas pronunciadas, não havendo razão para o alarmismo ambientalista com as mudanças atuais.
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